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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O LinkedIn, maior plataforma profissional do mundo, fomenta o preconceito?

Pixabay
Imagem: Pixabay

28/03/2022 06h00

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Nas últimas semanas vinha se intensificando o debate sobre anúncios de oportunidades de emprego afirmativas para determinados grupos da sociedade sendo derrubados dentro da plataforma LinkedIn. Enquanto não havia ainda um posicionamento específico, apenas uma mensagem robótica dizendo que a publicação não estava dentro das diretrizes das políticas da plataforma, os "casos isolados" já estavam sendo muitos.

Abrir uma vaga afirmativa, ou um programa de contratação afirmativo, para pessoas negras, para pessoas trans, ou outro recorte social minorizado dentro do mercado de trabalho tem sido uma prática cada vez mais comum nas empresas que se preocupam com a diversidade e a desigualdade de oportunidades sociais que impede que tais pessoas tenham as mesmas chances nos processos "tradicionais". Crescer em diversidade é assim mesmo, requer olhar as diferentes oportunidades que as pessoas tiveram por conta do contexto histórico, social e cultural, e adequar os processos de contratação para que sejam justos com essas realidades.

Antes que você diga que na sua opinião isso está errado e seria algum tipo de "preconceito reverso", saiba que essa opinião não vale de nada pois neste país já existe lei que entende essa desigualdade, ampara e dá viabilidade para ações afirmativas acontecerem. Ou seja, neste contexto, é lei. Ações afirmativas são legais e tanto podem, como devem ser realizadas para que a gente consiga mudar o cenário desigual.

Enquanto isso, lá na maior rede social mundial de empregabilidade, em determinado "caso isolado" o LinkedIn se pronunciou dizendo que havia retirado o anúncio de vaga afirmativa porque tal ação seria um ato discriminatório, pois especificava determinado recorte possível de participar daquele processo, e para eles, em sua política mundial, não pode.

Pronto, estava feito o estrago. De um lado temos um time trabalhando localmente no LinkedIn pensando e promovendo ações olhando para o cenário do Brasil; do outro lado temos empresas e pessoas cada vez mais trazendo a pauta da diversidade como responsabilidade do mercado de trabalho, e acima disso tudo temos uma política de plataforma que veta todos esses esforços.

O LinkedIn precisa fazer o mesmo que as plataformas de tecnologia que, seguindo legislações locais, adequaram suas políticas para atender às leis de cada país em que atuam. Fazendo esse paralelo, se você vai usar algum serviço em nuvem de uma empresa de tecnologia global, como a Amazon por exemplo, para hospedar seu site, a política de uso desses recursos já foi adequada para seguir a LGPD. Ela, a Lei Geral de Proteção aos Dados, regulamenta no Brasil questões legais sobre uso de dados brasileiros em ambientes tecnológicos. Vários outros países possuem suas próprias legislações e a Amazon adequou sua política para atender a todas elas. E não era assim no começo. Era como no LinkedIn, uma política global para atender o mundo inteiro. Mas as culturas são diferentes, e as plataformas precisam se adequar a elas.

Atender globalmente não é a mesma coisa que atender multiculturalmente. E olha que irônico, a multiculturalidade é uma das pautas da diversidade também.